Cavalo de tróia – O Equino mitológico mexe com as relações de poder da sociedade

A lenda ou história relatada no poema épico Eneida do poeta latino Virgílio conta que os gregos construíram um enorme cavalo de madeira, recheado de soldados e abandonado diante das muralhas de Tróia. A mensagem era que fingindo abandonar a guerra, os gregos retiraram-se para uma ilha próxima, deixando o cavalo como oferenda a Atena, deusa protetora de Tróia. Os troianos acolheram o presente e, durante a noite, os guerreiros que estavam dentro dele abriram as portas da cidade para a entrada do exército grego, que massacrou os rivais.

O fato é que o cavalo de Tróia foi um símbolo de guerra importante para os gregos. Há quem se refira a ele como o primeiro tanque de guerra da humanidade. Essa referência ao animal ‘presa’ esteve presente por séculos na humanidade e não se imagina uma guerra no passado sem o cavalo estar presente. As guerras nos períodos anteriores ao surgimento do motor de combustão, eram quase sempre lutadas em cima do lombo do cavalo. Artigo de luxo carregava os mais renomados líderes, combatentes em busca de um ideal. O cavalo era usado como uma forma de tática de choque, para reprimir e assustar forças inimigas, representando sempre maior força e vantagem. Na primeira Guerra Mundial foi ele quem puxou e carregou os armamentos pesados, suprimentos, feridos e mortos importantes e não esquecidos nos combates.

Quando da evolução das armas automáticas frente à vulnerabilidade do grande animal nem assim ele foi esquecido, retirado dos embates mais violentos, foi usado em atividades de logística e apoio em decorrência da maior facilidade em passar por lugares de difícil acesso.

Estima-se que em torno de 8 milhões de cavalos tenham perecido na Primeira Guerra Mundial, foram entre 1,5 milhão e 1,8 milhão utilizados pela França, 1,2 milhão pela Inglaterra e 1 milhão pela Alemanha. Os demais países somavam 4 milhões de equinos. Eles eram tão importantes na guerra que passaram a ser importados e até chegaram à escassez em alguns lugares. O certo é que, esse movimento que tantos animais exterminou também oportunizou um conhecimento melhor dos limites e força de determinadas raças, a troca genética e acima de tudo a relação entre homem e animal.

E é essa grande versatilidade e docilidade do cavalo que lhe rende uma posição na sociedade de status e glamour, seja nos páreos dos jockeys, nas hípicas, nos campos de polo, nas exposições e até mesmo na vida western.
Considerado o país com o maior rebanho de equídeos da América Latina e o terceiro do mundo, o Brasil conta hoje com mais de 7 mil cabeças de equinos, muares e asininos. Destes, 16,57% são usados para o esporte e 49,9% na lida com o gado.

O animal que outrora era visto como relação de poder, não perdeu o posto, mas hoje já recebe outras funções bem menos mortais como curar uma fobia, adaptar uma criança com problemas mentais… e ser tratado como uma verdadeira arma do bem estrategicamente inserida no mundo contemporâneo. Pelo visto, o poderoso quadrúpede tem seu lugar no cotidiano do homem.

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